
entrou na porta de costas
descalço, com os pés vesgos
descia carregando medos,
as escadas suspensas em redes.
com visão lenta petrificava o espaço
e, das vidraças retratavam as sombras
do lado de lá, da porta ao lado.
encontrou o anoitecer sem horas,
velas ardiam pela casa,
como astros em campo nu
a claridade existia dentro do tempo.
passeou a memória,
sem excessos
recordou como se movia o mar
e com os dois pés esquerdos
caminhou sobre cal caída das paredes
sujas de palavras.
de dentro sangrava
o fascínio de saber sonhar.
helena maltez